quinta-feira, 20 de setembro de 2012

A CONTA, POR FAVOR!



 
A conta, por favor!
Será que mais uma vez ela nem vai se coçar?
Quem foi o desgraçado que inventou essa história de homem pagar a conta?
Ah, ela vai ao banheiro. Bem agora que o garçom está vindo para cá...
Eu mereço!
É pra aprender a não fazer tipo de bem-sucedido.
Sou professor. Pro-fes-sor. Precisa dizer mais?
Pelo visto, precisa.
Será que ela não reparou no meu carro?
Deve achar que é uma excentricidade minha...
Mas, sério, devia ter uma regra determinando que, depois do terceiro encontro, as contas passam a ser divididas.
Não faz sentido que um cara duro como eu continue a bancar essa pobre menina rica.
No primeiro encontro, até gostei.
Afinal, quando a mulher não deixa o cara pagar a conta de jeito nenhum, parece que tá avisando: NÃO ADIANTA, QUE EU NÃO VOU DAR PRA VOCÊ! (o que não quer dizer que, quando deixa, é porque está a fim...)
Mas depois... Já estamos saindo há quase 2 meses...
Ok, vamos ver de quanto é o prejuízo hoje:
R$ 190,00.
Peraí, deixa eu conferir...
O pior é que está correta.
Não dá. Não posso continuar assim. Ela precisa perceber a situação.
E lá vem. Linda e loira, sem uma preocupação nesta vida...
Chega. Vou tomar uma atitude. Sinceridade é a melhor solução.
Escuta, meu bem, o limite do meu cartão de crédito tá estourado e o meu salário só entra na semana que vem...
Ah, amor, não esquenta... Deixa que eu dou o meu cartão. Semana que vem você me paga...

sábado, 15 de setembro de 2012

MATRIOSKA




    Hoje, logo cedo, uma grande amiga me entregou o convite de casamento de sua filha. Foi só ela ensaiar umas lágrimas, que eu também entrei na onda. Afinal, conheci a noiva quando ela era ainda criança e eu, uma jovem universitária. Agora, além de madrinha do meu filho, é médica e vai se casar. Quanta coisa aconteceu desde que conheci a menina de 6 anos. Eu me formei. Casei. Tive um filho. Ela passou no vestibular. Estudou. Se formou. Noivou (uma coisa retrô mesmo). Eu me separei. Ela vai casar. A leitura do convite deu direito àquele filminho usualmente reservado aos quase afogamentos. Sua vida de trás pra frente. Assim começou o meu dia.
    E terminou com mais lágrimas, desta vez assistindo Tropicália, filme que, ao que tudo indica, não era para chorar. Pelo menos, não vi mais ninguém chorando. Mas comecei achando que ia ser apenas um amontoado de vídeos antigos que, hoje em dia, a gente consegue encontrar sozinho no youtube e terminei me emocionando com Gil, Caetano e todos os demais músicos retratados. Principalmente Caetano que, quando jovem, tinha um sorriso e uma alegria contagiantes. Ainda tem um sorriso bonito, sereno. Mas com uma pitada de cinismo, ceticismo ou seja-lá-o-que-for que substitui a inocência dos jovens. Inocência que, em vídeo gravado em Londres, nos anos 70, Jorge Mautner oferece devolver-lhe.
    A passagem do tempo é muito perturbadora. Durante longos períodos, você não presta atenção. Daí quando chega a um marco da vida ou encontra um amigo antigo, um baú de fotografias, cartas, ou mesmo um diário, olha pra trás. E lá está você. Criança ainda. Aquela criança é você. Que não existe mais. Você lembra vagamente de como era ser ela. Mas não é mais. Talvez ela ainda habite um pedacinho seu qualquer. E, mais adiante, há apenas 20 anos atrás. Fotos, cartas, escritos, provas de que você andava por aqui, pensando algumas coisas que ainda pensa e outras que há tempos deixou de pensar. Mais uma vez, é alguém muito parecido com você, mas que não é exatamente você. Ou é apenas uma parte sua. Hoje, você é todas as pessoas que já foi. Uma matrioska. Aquela boneca de madeira russa, que tem outra dentro, que tem mais outra, e outra e outra... É o que o tempo faz com as pessoas. Matrioskas.