Ai,
meu deus do céu, só tem velha! Será que a Elisa me mandou pra uma aula de
ginástica da terceira idade? Ela sabe que não tenho paciência pra essas
coisas... Aliás, não é ginástica... Não, ginástica é coisa de velho! Agora
inventaram outros nomes. Pilates, Alexander, RPG, e agora esse tal de “Programa de Movimento Integrado”. Onde eu estava com a cabeça em topar essa academia zen? Que saudades da Jane Fonda... Bom, pelo menos deve
ter umas 3 alunas abaixo de 60. Vou pôr o meu colchonete (é “mat”, vó, disse a minha neta quando o
comprei!) do lado daquela mais nova, que deve ter uns quarenta e poucos.
Não
acredito! Aquela velha veio com acompanhante! Não consegue nem andar sem ajuda,
como é que pode fazer “movimento
integrado”??? Ainda dá tempo de ir embora, fingir que me enganei de sala...
E terei perdido uma manhã à toa. Não, vou até o fim, ainda há esperança.
Finalmente...
A professora chega com 7 minutos de atraso e fica conversando com as alunas.
Basicamente perguntando sobre a saúde delas... A velha diz que tá com dor de
cabeça. A professora ri e responde, em tom condescendente: “A senhora andou tomando uma cervejinha no fim de semana, né?”. Não
tem 5 minutos que essa mulher entrou na sala e eu já a desprezo. Será que a
idade não impõe mais respeito? É capaz dessa velha estar tenho um AVC e a
professora a está tratando como a uma criança travessa.
Mas,
o pior é que eu estou aqui. Parte desse grupo patético. Ela me pergunta meu
nome. Se tenho algum problema de saúde ou alguma dor. Imagina! Só pressão alta,
artrose, bico de papagaio, hérnia lombar, úlcera, bursite no ombro e mais
alguns males dos quais não me recordo agora. Minto que estou ótima. Ela me fita
com olhar descrente e um sorrisinho forçado, daqueles que a gente reserva a
pessoas mais velhas, que dizem que nos pegaram no colo (faz tempo que não dou
um desses...). Pede que avise se sentir algum desconforto.
Ha! Acabou de me
conhecer, mas me chama de você. O que, por um lado, me irrita (afinal, até
alguns meses atrás eu era Excelência ou, pelo menos, doutora); mas, por outro, me
distingue da velha, a quem ela chamou de senhora... Sinal de que reconhece que
sou muuuuuuuuuuuuuuito mais jovem. Talvez não seja tão idiota assim.
Começa
a aula. Todo mundo em pé e a velha deitada. Uma baboseira de ficar apertando um
“macarrão” daqueles de piscina com o
pé... Eu sei, eu sei, tem que massagear o pé, etc., etc... Mas me cheira a
enganação. Como se não bastasse, quando ela fala para apoiar bem o metatarso no
macarrão, ela explica, olhando especificamente para mim, onde fica o dito cujo
e ainda me recomenda que fique à vontade para perguntar se não entender algum
outro termo. Depois é um tal de rodar o pescoço pra cá e pra lá, até que
começam as “mobilizações”.
Bom,
as “mobilizações” são um capítulo à
parte. Nesta aula, embora o nome seja “Programa
de MOVIMENTO Integrado”, ninguém movimenta ou mexe nem um dedinho. Em
compensação, não paramos de “mobilizar”.
Mobilizamos a coluna, os braços, as pernas, todas as partes do corpo, de forma
isolada e também integrada. Devemos respirar pelas costelas e soltar o ar pelas
costas. Essa parte é bem difícil pra mim, acostumada que estou a respirar pelo
nariz ou, no máximo, pela boca. Quanto às vias de saída de ar, prefiro não
entrar em detalhes.
Mas
toda essa mobilização é muito suave. Após 20 minutos, não suei uma única gota.
É bem verdade que, em atenção à parte expressiva do público em menopausa, o ar
condicionado está fortíssimo.
Somos,
então, orientadas a deitar em nossos “mats”.
Mais mobilizações, de barriga pra cima e depois de joelhos, sempre tomando
cuidado para não machucar. “Se sentir
algum desconforto, pare...”. Olha, eu nunca vi aula de ginástica sem
desconforto... Se não tiver desconforto é porque não está exercitando. Exercício
é desconfortável e pronto. Confortável é dormir.
A
professora, no entanto, é muito preocupada com eventual desconforto de suas
alunas e logo esclarece que, quem quiser, pode mudar o “posicionamento”. “Não tem a
menor importância”, acrescenta. Ok, pra mim chega. Posicionamento????
Podemos sair do “posicionamento” de
joelhos para o “posicionamento” de
bruços? Não existe mais posição? E, além disso, como assim, não tem a menor
importância??? Não tem uma forma correta de fazer o exercício?
Calma.
Respira. Faltam só 10 minutos. Não diga nada. Fique em silêncio. Você não
precisa voltar aqui nunca mais. Meu olhar cruza rapidamente com o da moça a meu
lado. Parece que também é sua primeira aula. Tento um sorriso cúmplice. Ela
corresponde, mas faz sinal para eu acompanhar o exercício, do qual havia me
desligado, e explica: “É para tentar
alcançar entre as escápulas... Aqui, ó! Os antigos omoplatas...”.
Claro,
outra idiota! Afinal, o que uma mulher dessa idade está fazendo em uma aula de “movimento
integrado”, em plena segunda-feira, às 11:30 da manhã?