terça-feira, 3 de dezembro de 2013

VELHA, SIM; IDIOTA, NUNCA!



Ai, meu deus do céu, só tem velha! Será que a Elisa me mandou pra uma aula de ginástica da terceira idade? Ela sabe que não tenho paciência pra essas coisas... Aliás, não é ginástica... Não, ginástica é coisa de velho! Agora inventaram outros nomes. Pilates, Alexander, RPG, e agora esse tal de “Programa de Movimento Integrado”. Onde eu estava com a cabeça em topar essa academia zen? Que saudades da Jane Fonda... Bom, pelo menos deve ter umas 3 alunas abaixo de 60. Vou pôr o meu colchonete (é “mat”, vó, disse a minha neta quando o comprei!) do lado daquela mais nova, que deve ter uns quarenta e poucos. 


Não acredito! Aquela velha veio com acompanhante! Não consegue nem andar sem ajuda, como é que pode fazer “movimento integrado”??? Ainda dá tempo de ir embora, fingir que me enganei de sala... E terei perdido uma manhã à toa. Não, vou até o fim, ainda há esperança.


Finalmente... A professora chega com 7 minutos de atraso e fica conversando com as alunas. Basicamente perguntando sobre a saúde delas... A velha diz que tá com dor de cabeça. A professora ri e responde, em tom condescendente: “A senhora andou tomando uma cervejinha no fim de semana, né?”. Não tem 5 minutos que essa mulher entrou na sala e eu já a desprezo. Será que a idade não impõe mais respeito? É capaz dessa velha estar tenho um AVC e a professora a está tratando como a uma criança travessa. 


Mas, o pior é que eu estou aqui. Parte desse grupo patético. Ela me pergunta meu nome. Se tenho algum problema de saúde ou alguma dor. Imagina! Só pressão alta, artrose, bico de papagaio, hérnia lombar, úlcera, bursite no ombro e mais alguns males dos quais não me recordo agora. Minto que estou ótima. Ela me fita com olhar descrente e um sorrisinho forçado, daqueles que a gente reserva a pessoas mais velhas, que dizem que nos pegaram no colo (faz tempo que não dou um desses...). Pede que avise se sentir algum desconforto. 


Ha! Acabou de me conhecer, mas me chama de você. O que, por um lado, me irrita (afinal, até alguns meses atrás eu era Excelência ou, pelo menos, doutora); mas, por outro, me distingue da velha, a quem ela chamou de senhora... Sinal de que reconhece que sou muuuuuuuuuuuuuuito mais jovem. Talvez não seja tão idiota assim.


Começa a aula. Todo mundo em pé e a velha deitada. Uma baboseira de ficar apertando um “macarrão” daqueles de piscina com o pé... Eu sei, eu sei, tem que massagear o pé, etc., etc... Mas me cheira a enganação. Como se não bastasse, quando ela fala para apoiar bem o metatarso no macarrão, ela explica, olhando especificamente para mim, onde fica o dito cujo e ainda me recomenda que fique à vontade para perguntar se não entender algum outro termo. Depois é um tal de rodar o pescoço pra cá e pra lá, até que começam as “mobilizações”.


Bom, as “mobilizações” são um capítulo à parte. Nesta aula, embora o nome seja “Programa de MOVIMENTO Integrado”, ninguém movimenta ou mexe nem um dedinho. Em compensação, não paramos de “mobilizar”. Mobilizamos a coluna, os braços, as pernas, todas as partes do corpo, de forma isolada e também integrada. Devemos respirar pelas costelas e soltar o ar pelas costas. Essa parte é bem difícil pra mim, acostumada que estou a respirar pelo nariz ou, no máximo, pela boca. Quanto às vias de saída de ar, prefiro não entrar em detalhes. 


Mas toda essa mobilização é muito suave. Após 20 minutos, não suei uma única gota. É bem verdade que, em atenção à parte expressiva do público em menopausa, o ar condicionado está fortíssimo. 


Somos, então, orientadas a deitar em nossos “mats”. Mais mobilizações, de barriga pra cima e depois de joelhos, sempre tomando cuidado para não machucar. “Se sentir algum desconforto, pare...”. Olha, eu nunca vi aula de ginástica sem desconforto... Se não tiver desconforto é porque não está exercitando. Exercício é desconfortável e pronto. Confortável é dormir. 


A professora, no entanto, é muito preocupada com eventual desconforto de suas alunas e logo esclarece que, quem quiser, pode mudar o “posicionamento”. “Não tem a menor importância”, acrescenta. Ok, pra mim chega. Posicionamento???? Podemos sair do “posicionamento” de joelhos para o “posicionamento” de bruços? Não existe mais posição? E, além disso, como assim, não tem a menor importância??? Não tem uma forma correta de fazer o exercício? 


Calma. Respira. Faltam só 10 minutos. Não diga nada. Fique em silêncio. Você não precisa voltar aqui nunca mais. Meu olhar cruza rapidamente com o da moça a meu lado. Parece que também é sua primeira aula. Tento um sorriso cúmplice. Ela corresponde, mas faz sinal para eu acompanhar o exercício, do qual havia me desligado, e explica: “É para tentar alcançar entre as escápulas... Aqui, ó! Os antigos omoplatas...”.


Claro, outra idiota! Afinal, o que uma mulher dessa idade está fazendo em uma aula de “movimento integrado”, em plena segunda-feira, às 11:30 da manhã?